Encontro com Antonella Lombardo, fundadora do Lad (Laboratório Acadêmico de Dança) do DanceLabArmonia e da marcha Armonia pela Paz. Trata-se de uma utilizadora incansável da arte para construir a fraternidade, a unidade e a paz.   

Antonella Lombardo começou a estudar dança ainda criança. Continuou na Academia de Dança de Roma e frequentou cursos em Paris, Sorbonne e Cannes. Casou-se aos 25 anos, interrompendo a carreira de bailarina, e dedicou-se ao ensino. Ela construiu um centro de arte extraordinário em 1984, repleto de humanidade, em Montecatini, na Toscana. Chama-se Laboratório Acadêmico de Dança: o LAD, que foi o início de uma grande história. Nós nos encontramos com ela para nos contar uma aventura que começou há 40 anos.

Nosso trabalho nasceu para criar um ponto de encontro para os jovens. Para oferecer a eles um lugar no qual vivenciar a arte em suas diversas disciplinas, com positividade e muitos estímulos. Uma escola que atende milhares de jovens há 40 anos.

Que lembranças você tem dos primórdios?

Muitos, mas também me lembro de uma inquietação crescente, porque eu lutava para comunicar a verdadeira essência da arte.

Como assim?

Não fui ajudada pela mídia e pelos shows de talentos que estavam surgindo na época: os jovens se inscreviam porque queriam participar desses programas. Buscavam sucesso pessoal, visibilidade. Isso me machucou.

Então o que aconteceu?

Entre 2003 e 2004 fui chamada a participar de um espetáculo para um grupo de jovens em Assis. Lá conheci o Prof. Massimo Toschi, pessoa com deficiência, em cadeira de rodas, então vereador pela região da Toscana. Ele me perguntou se eu tinha um sonho. Foi um momento muito importante. Ele estava viajando para vários lugares do mundo a fim de dar apoio, devido a guerras ou a problemas sociais. Ele estava se esforçando para oferecer soluções políticas. Seu coração batia em uníssono com aqueles que encontrava.

O que você disse a ele?

Falei-lhe sobre o sonho que jovens de todos os países pudessem se apresentar em um palco e oferecer a arte como instrumento de unidade entre os povos. Ele ficou impressionado. Quis me ajudar e me pediu para montar um projeto.

Você fez…

E assim começou a aventura da Associação Cultural “DanceLab Armonia”: expressão do Laboratório Acadêmico de Dança, para oferecer o verdadeiro significado da arte aos jovens que se deparam com a dança.

Qual foi o resultado dessa iniciativa?

O projeto entrou em comunhão com muitos jovens. Finalmente, eles puderam experimentar e vivenciar o significado primário e mais elevado da arte. Já não eram as minhas palavras que tinham de explicar que não se constrói a arte só para ir para a televisão. Encontrei em uma de minhas ex-alunas, Elisa, uma aliada, e apesar da diferença de idade ela sempre esteve ao meu lado.

Como o trabalho se desenvolveu ao longo do tempo?

Através de três caminhos: um para jovens com um campus internacional gratuito, onde, durante 12-15 dias por ano, na minha escola, os alunos estudam e vivem juntos. Em 2022, chegamos ao 9º e agora estamos tentando realizar o 10º.

De onde vêm os jovens?

Espanha, Bósnia, Líbano, Egito, Argentina, Palestina e Itália. Até mesmo de zonas de guerra. Dessa forma, eles podem encontrar colegas com problemas maiores do que os próprios e experimentar o poder da arte.

O segundo caminho?

Um Festival Internacional, agora em sua 19ª edição, que envolve os municípios de Valdinievole (incluindo Montecatini Terme) na província de Pistoia. As pessoas podem participar de noites artísticas e culturais sobre o tema identificado a cada ano.

Exemplos?

A dor nos povos, A esperança sobre o medo, Conhecer-se para não ter medo, A arte como educação para a paz.

O objetivo não muda:

Testemunhar a arte como instrumento universal de harmonia entre os povos.

Qual a importância das instituições?

Conseguimos construir um memorando de entendimento com a região da Toscana e incluir também os municípios de Assis, Palermo e Florença. O protocolo nos ajuda não tanto financeiramente, mas com patrocínios. Cada município pode organizar uma noite do Festival de acordo com suas possibilidades e o que considerar mais útil para o território. As escolas também participam do Festival e, a partir daí, em 2012, nasceu a marcha “Harmonia pela Paz”, inicialmente desejada pelas Instituições, mas depois transformada em um caminho de formação para a Paz nas escolas.

Quando ocorre?

No dia 4 de outubro, envolvendo escolas de todos os níveis da nossa área.

A quem se destina?

A mais de 1500 jovens, que marcham de um município a outro. Durante o ano, além disso, com os professores, realizam atividades para serem construtores da paz.

Um trabalho constante…

Diário! Podemos nos tornar construtores de paz com nossos colegas de classe, em nossas famílias, entre nossos amigos.

Daí o nascimento da terceira via?

Durante a pandemia, a marcha e o trabalho em torno dela, por necessidade, abriram-se para o virtual: com vídeos de um minuto enviados pelas escolas sobre o tema da paz.

A dificuldade virou recurso?

A mudança provocou o encontro com escolas de muitas outras partes do mundo. Não mais apenas o nosso território. Além disso, os professores nos explicam que, graças a essa bela ideia, conseguem conhecer melhor os alunos: nos vídeos e na programação eles falam sobre suas experiências, eles se conhecem melhor. A marcha virtual não para de crescer.

Esses três caminhos levaram você pelo mundo todo?

Com o Lad e a associação Dancelab Armonia, criamos espetáculos em Budapeste (com 25 mil jovens de várias partes do mundo para o GenFest), Manila e Marselha, onde 4 mil jovens de escolas muçulmanas e cristãs se encontraram.

A certa altura, a complexidade do Oriente Médio

Sempre através de Massimo Toschi, em 2006, fui a Jerusalém falar com um frade menor: padre Ibrahim Faltas, hoje vigário da Terra Santa. Ele teve que me ajudar com vistos para levar israelenses e palestinos ao nosso campus internacional na Itália. Foi o primeiro campus que organizamos na Itália. Cheguei a Jerusalém muito animada.

Leia a seconda parte AQUI.