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“Mas essa é a vida”: meu Genfest, 50 anos atrás!
Valério Gentile, que viveu os primeiros Genfest, conta…
Imaginem um grupo de jovens, viajando pelo Norte da Itália, entre o final dos anos sessenta e o início dos anos setenta, carregando guitarras, de cabelos compridos e usando calça boca de sino. Quer estejam em um conservatório de Milão, na Feira de Gênova ou em um teatro de Turim, cantam e falam de uma revolução. Eles são portadores de uma mensagem que é uma espécie de desafio à sociedade estabelecida, que é um prelúdio de uma mudança em relação ao que está acontecendo.
Porém, vamos com calma, não é o que vocês pensam. Essa é outra revolução que envolve milhares de jovens e que, naqueles anos, leva ao nascimento do Genfest. Vamos dar um passo atrás com Valerio Gentile, que no início da década de 70 era um jovem de vinte anos, de Turim, que estudou Línguas e Literatura Estrangeira na universidade e que trabalha na loja de esportes da família. «Éramos jovens como os outros, imersos nos desafios mais atuais, e respirávamos, também culturalmente, todas as influências da época, que eram mescladas pelos protestos juvenis de 1968. Mas nós tínhamos outra revolução.» Valério tinha conhecido o ideal de fraternidade proposto por Chiara Lubich e o havia assumido como próprio: «Era inevitável falar de revolução, porque era disso que se tratava, mas ela era feita de amor a Deus, ao próximo, o que realmente levava a uma reviravolta no pensamento e na ação, colocando o outro no centro».
Nesse contexto, Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, lança as “Jornadas da Juventude”, realizadas nos típicos pontos de encontro dos jovens. «A ideia de Chiara de lançar as Jornadas da Juventude foi também uma resposta à efervescência de 1968, certamente.» – continua Valério. «Os protestos da juventude eram caracterizados por assembleias nas escolas, nas universidades, tanto que um encontro como o do Genfest já era mencionado naquela ocasião. Havia todo um legado de grandes manifestações, como o de Woodstock, por exemplo, e nós também os organizamos. E até para realizar eventos menores, fazíamos loucuras naquela época.» Valério fala sobre viagens de Turim a Milão e de retorno na mesma madrugada, a fim de falar a grupos de jovens, para preparar algum outro evento, para se colocar de acordo com toda a equipe a respeito dos próximos passos a serem dados. É bom lembrar que não havia internet, whatsapp ou zoom; tudo é feito com um telefone fixo em casa, sem qualquer privacidade em relação às famílias, que nem sempre entendem, e com longas viagens e sacrifícios para se encontrarem pessoalmente.
Muita coisa está acontecendo ao redor de Loppiano, a cidadezinha internacional do Movimento dos Focolares, perto de Florença, nascida há poucos anos: começa-se a falar de um grande encontro em Loppiano. «Talvez já fosse uma espécie de Primeiro de Maio, em 1971, quando o evento tomou a forma de um grande encontro de grupos musicais. Como muitos jovens da época, eu também fazia parte de um grupo musical que queria testemunhar a unidade com a música, e nós também fomos participar, com duas canções.» Aquele primeiro encontro é um grande testemunho de que os “gen”, isto é, os jovens do Movimento dos Focolares, não são diferentes dos outros jovens, têm as mesmas aspirações de beleza, de grandeza e de plenitude de vida. Valério continua: «O ano de 1971 foi uma grande emoção, e já se podia sentir que tudo se tornaria algo bem maior, tanto que em 1972 o evento se repetiu, mas foi em 1973 que pude dizer que participei no primeiro Genfest».
De fato, a partir do evento de 1971, a experiência torna-se uma árvore maior que envolveu jovens de outras partes da Itália e até da Europa, desde o início, com os mesmos padrões de viagem e telefones fixos mencionados acima, e com uma Itália que ainda não é provida de autoestradas. Em um desses encontros que o levam a Milão uma vez por semana, Valério é convidado a preparar o tema para o início do evento, intitulado “Homem-mundo além de todas as barreiras”. Passar dos palcos de teatros ou de conservatórios para o palco do primeiro Genfest foi quase natural: «Claro, tínhamos consciência de que todo aquele esforço significava construir um mundo novo, no qual os valores em que acreditávamos eram colocados ao alcance de todos. E isso significava um trabalho muito intenso para preparar experiências, canções, temas, mas também nos confrontávamos, às vezes era difícil, mas o sentimento de agregação e de sermos um só corpo nos dava uma motivação infinita. Não vivíamos em uma bolha, o entusiasmo era concreto».
Uma lembrança particular de Valério é o Genfest 1974. Já se começa a ser criada uma tradição com relação a esse grande encontro de jovens, e o número de participantes aumenta muito em poucos anos.
«Na véspera, já estava prevista uma chuva forte, e tinha sido praticamente impossível deter os ônibus com os jovens, que chegavam a Loppiano vindos de toda a Europa para uma programação ao ar livre. O que fazer? Durante a noite, liberamos temporariamente os galpões onde tinha criação de galinhas, montando salas improvisadas livrando-as do cheiro de galinhas com incenso. No dia seguinte, fizemos um programa “rotativo” em vários lugares, para que todos tivessem as mesmas experiências, mas em momentos diferentes».
O Genfest de 1974, lembra Valério, é profético em certo sentido, porque dá a ideia do que acontecerá nos anos seguintes com os Genfest locais: eventos menores, mas com o mesmo perfil do evento maior, justamente como acontecerá daqui a poucos dias em Aparecida e em outras partes do mundo.
«O resto é história. Desde 1975, o Genfest passou a acontecer em Roma e, há alguns anos, também em outras partes do mundo, mas o perfil permaneceu sempre o mesmo, como Chiara Lubich nos ensinou: que até mesmo um sorriso dado por amor, é amor. Ou seja, dávamos um valor enorme a amar o outro, inclusive no absurdo se quiséssemos, às vezes sem dizer nada. Antes, havia esse testemunho, e os Genfest nasceram nessa linha, ou pelo menos foi assim que eu os vivi».
Valério se despede de nós com os melhores votos para os jovens que se preparam para viver um Genfest hoje: «Hoje houve uma grande evolução em tudo, mas desejo a eles aquilo que aconteceu comigo. O Genfest foi um momento muito importante na minha vida; foi ali que entendi que Deus precisava de mim, pois Ele tem o sonho de que “todos são um”. Um sonho, uma loucura, mas foi isso que o Genfest colocou nas minhas veias, levando-me a viver uma revolução que não se faz com 8 horas de ocupação de uma universidade, mas que exige que amemos quem está ao nosso lado 24 horas por dia. Essa é a vida! Isso é vida! Desejo que cada jovem descubra e redescubra a força e a beleza de tudo isso».