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A lição de “Ozi – A voz da floresta”
É um filme para crianças, mas não só para elas, que fala sobre a nossa Terra que está sofrendo e menciona palavras dolorosas, como desmatamento. Um filme de animação inteligente e formativo, produzido por Leonardo Di Caprio.
“Ozi – A voz da floresta” não é o primeiro filme de animação dirigido por Tim Harper e estará nos cinemas a partir do próximo dia 19 de setembro, abordando um tema delicado como a ecologia, o cuidado com a casa comum. Pensemos no colossal “Avatar”, de 2009, no belíssimo “Wall-E”, de 2008, e mais para trás em “Nausicaä do Vale do Vento”, de 1984, dirigido pelo mestre japonês Hayao Miyazaki.
A justaposição desse ótimo filme (produzido por Leonardo Di Caprio) com as três joias cinematográficas mencionadas ajuda a descrever a natureza de uma produção agradável emocionalmente e nutritiva, educativa, pelo conteúdo que transmite. É para os pequenos, em primeiro lugar, mas também para os adultos que os acompanharão às salas de cinema.
A história é de uma bebê orangotango, Ozi, que vive feliz na floresta tropical com seus pais, em harmonia com a paisagem, podemos dizer. Até que um terrível incêndio, no qual também se vê uma escavadeira gigantesca e violenta (o que indica que a origem do incêndio não é aleatória), obriga a família de Ozi a se separar, impossibilitando que a menina saiba que destino se abateu sobre seus pais. E vice-versa.
Ozi é salva por defensores honestos da natureza, por ativistas sinceros, por voluntários apaixonados pela saúde dos ecossistemas e das criaturas que os habitam. Essas pessoas cuidam dela e de outros filhotes que tiveram um destino semelhante ao dela.
Graças à inteligência cristalina, a jovem aprende a linguagem de sinais e, por meio da tecnologia, torna-se até mesmo uma influenciadora capaz de se comunicar com os humanos para conscientizar sobre o tema do meio ambiente.
Está indo tudo bem para a pequena Ozi. Só que, um dia, ela descobre que seus pais ainda estão vivos, e com os amigos, tão bizarros quanto reais, ela deixa aquele cantinho do mundo em equilíbrio e enfrenta uma jornada em que descobre o triste e gigantesco desmatamento e a exploração exasperada de espaços e recursos naturais.
Ozi descobre que seus pais vivem em um espaço artificial com muitas outras espécies: um recipiente mediante o qual uma grande sociedade faz publicidade de si, oferecendo uma imagem própria que não corresponde à realidade.
A protagonista conseguirá abraçar a mãe e o pai novamente, mas graças à sua coragem, sensibilidade e perseverança, combinadas com seu talento midiático, Ozi denunciará a realidade de um mundo depredado e, mais sutilmente, a da especulação por interesses pessoais, principalmente econômicos, de um tema fundamental para o nosso futuro: o do meio ambiente.
É a realidade da grande marca corporativa que explora o tema da natureza para esconder, senão até para alimentar, os próprios ganhos, baseados em uma conduta comercial que explora de modo selvagem o espaço comum, cuja integridade é vital para todas as formas de vida, inclusive a vida humana.
“Ozi – A voz da floresta”, com maior clareza do que os três filmes de animação citados no início deste artigo, usa uma linguagem voltada para o público infantil: tem uma estrutura simples, com momentos de ação cheios de adrenalina e outros mais ternos e engraçados, até leves, cômicos, com a vitória final da pequena heroína, apoiada por seu grupo de amigos.
É precisamente essa clareza de intenções, sua linearidade límpida, que o torna útil para divulgar e aprofundar o tema fundamental da proteção do nosso planeta. Certamente é para os pequenos, como mencionado, mas também é uma boa refrescada para os adultos, pois os questiona (questiona a nós) sobre a hipocrisia, a superficialidade, sobre o desinteresse que podem (podemos) ter diante da questão do meio ambiente.
No filme, um adulto humano fala sem rodeios de “lenga-lenga”, quando Ozi tenta sensibilizar os espectadores, e é uma expressão, uma emoção que pode surgir facilmente no coração das pessoas, porque é desconfortável admitir que a nossa casa comum sofre e que há necessidade de uma mudança que obrigue todos nós a uma responsabilidade diária séria.
Leonardo Di Caprio não é novo na produção de filmes sobre a Terra em dificuldade, sofrendo nas mãos do homem. Em 2016, realizou o poderoso documentário “Antes do dilúvio”, no qual ele mesmo dialoga com personalidades influentes do mundo todo sobre as mudanças climáticas que ferem o planeta. Em 2007, realizou “A última hora”, outro documentário, dessa vez escrito e narrado por Di Caprio, sobre a necessidade de mudar de marcha se quisermos viver em um futuro sustentável.
Agora, o ator americano vencedor de um Oscar nos oferece este filme que é logicamente menos violento, mais insinuante, menos chocante do que as duas criações anteriores, mas perfeitamente capaz de ser um instrumento de diálogo entre gerações, em vista do cuidado com o que a própria Ozi costuma chamar de “casa”, ou seja, a nossa casa comum, repetindo as palavras do papa Francisco. Cuidado com aquele espaço que nos foi dado para viver, espaço que deve ser protegido com total atenção, pois sem ele deixamos de existir, sem ele e sem sua vegetação não estaremos mais aqui.