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“Abordar o tema da inteligência artificial é antes de tudo uma necessidade”
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Por ocasião da transmissão, na TV italiana, de um programa dedicado à inteligência artificial, a seu impacto no trabalho, na economia e em outros campos da vida humana, entrevistamos a apresentadora do programa, intitulado AlgorEtica: a jornalista Monica Mondo.
Acaba de ter início um programa muito interessante no canal de televisão italiano TV2000 (emissora da Conferência Episcopal Italiana), intitulado “AlgorEtica – Noi e l’intelligenza artificiale”, dedicado à inteligência artificial: um tema delicado do nosso presente e do nosso futuro.
Esse programa vai ao ar aos sábados, às 15h15, até 15 de fevereiro, e cada episódio pode ser revisto sob demanda no aplicativo Play2000.
AlgorEtica é uma reflexão aprofundada sobre o assunto com convidados no estúdio, os quais ajudam o público a se orientar nesse argumento, que se mostra cada vez mais capaz de entrar em todos os campos da nossa vida, incluindo no trabalho.
A apresentadora do programa, a jornalista Monica Mondo, no início da transmissão comenta o tema abordado da seguinte forma: «[Isso] nos emociona, nos preocupa, desperta medo».
Pedimos a ela, envolvida nessa aventura que partiu de uma ideia do diretor do canal, Vincenzo Morgante, que nos contasse sobre a experiência importante que viveu. «Aceitei entrar nesse território que é novo para mim» – explicou – «porque, como tudo aquilo que é novo, me intriga e me desafia. Esse é o primeiro programa de TV sobre esse assunto», especifica Monica Mondo, acompanhada na condução pelo frei Paolo Benanti, teólogo da Ordem Terceira Regular de São Francisco, especialista em ética das tecnologias e membro italiano do Comitê das Nações Unidas sobre Inteligência Artificial. «É uma pessoa fantástica» – define-o a jornalista –, «muito culto e sábio, com uma formação científica e de engenharia, diferente da minha, que é humanística. Ele é capaz de explicar a todos e ajudar a entender as respostas dos convidados com alguns exemplos, depois das perguntas que faço a eles e a ele».
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AlgorEtica é uma palestra deliberadamente simples, com um bom ritmo e com «serviços que comprovam o que dizemos», continua a apresentadora. O título vem de uma expressão do «Papa Francisco, que falou muito bem de tudo aquilo que tínhamos no coração a respeito desse assunto, em seu discurso no G7, na Puglia, em junho passado. Quando se fala da pessoa e de pesquisas científicas ou tecnológicas – continua Monica Mondo –, que têm como centro a pessoa, mas que também podem manipulá-la e usá-la, é evidente que a ética, não como imposição de regras rígidas, mas como preocupação que a dignidade humana esteja sempre no centro, torna-se uma disciplina fundamental a ser lembrada».
As palavras do Pontífice de que a jornalista fala são colocadas como o incipit da transmissão. «[…] a inteligência artificial emerge precisamente do uso desse potencial criativo que Deus nos deu. Como é sabido, trata-se de um instrumento extremamente poderoso, utilizado em muitos domínios da atividade humana: da medicina ao mundo do trabalho, da cultura à comunicação, da educação à política. E é já legítimo supor que o seu uso influenciará cada vez mais a nossa forma de viver, as nossas relações sociais e, no futuro, até mesmo a maneira como concebemos a nossa identidade enquanto seres humanos. No entanto, o tema da inteligência artificial é frequentemente percebido como ambivalente: por um lado, entusiasma pelas possibilidades que oferece; por outro, gera temor pelas consequências que deixa antever.»
Perguntando a Monica Mondo se essa reflexão do Papa Francisco é a bússola da AlgorEtica, ela responde: «Certamente, a palavra do Papa, do magistério da Igreja, funciona como uma bússola. O conceito que ele expressou é um só: as descobertas e o uso da inteligência humana para novas descobertas são muito bons, mas desde que estejam sempre a serviço da pessoa e do bem comum. Quisemos lembrar isso em todos os episódios.»
Aos convidados do primeiro episódio, em um dos muitos questionamentos inteligentes que AlgorEtica oferece, Monica Mondo pergunta se estamos diante de uma revolução que é apenas tecnológica ou também antropológica e cultural. Pouco antes, Paolo Benanti havia definido a IA como «um lubrificante que tira o atrito no uso dos nossos objetos», acrescentando que, tempos atrás, para usar o PC era preciso conhecer sua linguagem; hoje basta falar com ele de maneira rudimentar. Tudo parece bom e fácil, mas logo depois, no Tabuleiro de Galton presente no estúdio, sai uma bolinha vermelha que expressa a possibilidade de nos transformarmos de pessoas em números. Então, perguntamos a Monica Mondo se, à luz dessa viagem pelo tema, o maior perigo da IA, na opinião dela, é isso ou se é algum tipo de nova mutação antropológica.
«Os perigos, nos diversos campos, são muitos e sempre dizem respeito à mesma grande tentação, ao mesmo pecado ou crime, dependendo do ponto de vista: usar o homem. Os dados da saúde ou os dados econômicos [usados] para interesse privado ou para distorcer o mercado; as máquinas, para atacar com mais precisão e horror em um cenário de guerra; ou para fazer com que aqueles que trabalham percam dignidade, assim como empregos. A principal tentação, como acontece com qualquer descoberta ou invenção da tecnologia – do átomo à faca –, é a de usá-la para o bem ou para o mal. Essa é uma única grande questão com a qual devemos não tanto nos preocupar, mas nos ocupar, identificando as questões críticas e tentando juntos, como pessoas civilizadas, como aconteceu ao menos em países democráticos, colocar regras e pontos de observação comuns, a fim de entendermos em tempo os perigos.»
No estúdio existem dois robôs: Pepper e Break. «É divertido que os tenhamos conosco, porque eles dão a ideia de um futuro que já está presente. Eles são reais, não são brinquedos, mas ferramentas usadas pela aplicação da lei. Break tem sido útil para algumas descobertas recentes em Pompeia. Eles podem ser gentis, bons amigos, ou armados e instrumentos de morte. No entanto, são objetos que usaremos cada vez mais no dia a dia e, se ajudarem a resolver problemas, que sejam bem-vindos.»
Como linha final, perguntamos a Monica Mondo como saímos da viagem de Algoretica: mais aliviados, mais inquietos ou simplesmente mais informados? Sua resposta foi: «Abordar o tema da inteligência artificial, aprender mais, é antes de tudo uma necessidade. Creio que isso nos deixa mais inquietos. Também fascinados, em alguns aspectos, pela inteligência do homem, mas preocupados com os desvios e riscos que isso pode trazer. O maior é este: que algumas ferramentas, estou pensando, por exemplo, nas mídias sociais, podem mudar o sistema das relações humanas, a psique de nossos filhos; e a inteligência artificial pode piorar essa tendência, portanto, mudar a maneira como olhamos para a pessoa e para as coisas que consideramos importantes nela».
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