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Educação para a Paz e Semana Mundo Unido: entrevista com dom Zani

 
8 maio 2020   |   , ,
 

É terça-feira, 5 de maio, bem no meio da Semana Mundo Unido. O #InTimeForPeace está cada vez mais conectando histórias, experiências e projetos, mas sobretudo as pessoas. Então, pensamos de ouvir a voz de dom Ângelo Vincenzo Zani. Desde 2012, dom Zani é secretário da Congregação para a Educação Católica, o “braço” da Santa Sé que se encarrega da educação no sentido mais amplo do termo: valorização das pessoas, dos talentos pessoais, dos relacionamentos e o bem de uma comunidade, a fim de que esteja educada para construir a paz. Fomos nos encontrar com dom Zani em seu escritório no Vaticano e, com um clique, iniciamos nossa conversa.

Dom Zani, o que significa trabalhar pela paz do ponto de vista educacional?

A.V. Zani: Eu realmente creio que aqui haja um ponto central, pois não é possível construir a paz se não formos educados para a paz e se não educarmos a paz, porque a paz é um fruto maduro com muitos aspectos. Não é uma reação espontânea; muitas vezes para construir a paz, é preciso superar muitas dificuldades, superar tensões, problemas, posições diferentes; portanto, se não houver um exercício, se não houver uma educação para a paz, um envolvimento dos sentimentos, do pensamento, não se constrói a paz; ou pode até ser construída, mas não tem a perspectiva certa. Não há paz se não houver educação para a paz.

Talvez o segredo seja justamente ‘não deixar pra lá’ quando as coisas ficam difíceis e encontrar uma maneira de superar a dificuldade…

A.V. Zani: O problema é que muitas vezes a ideia da paz leva o nosso pensamento para longe, a pensar quem sabe o quê; fazemos manifestações pela paz, pois trabalhar pela paz também é algo alegre e festivo, que nos envolve. Mas o verdadeiro teste da paz é na vida cotidiana! Na vida cotidiana e nos relacionamentos com as pessoas ao nosso redor, porque é ali que começamos a experimentar as diferenças. Somos irmãos, somos filhos, pais, estamos todos na mesma família, mas já na família há diferenças. Portanto, o primeiro passo é fazer da diferença um trampolim, uma possibilidade de ir mais longe, de sair de nós mesmos. A paz começa aí.

Uma das experiências que estão vindo à tona nesta Semana Mundo Unido é que os jovens não se movem mais sozinhos, mas são jovens “com”: com os mais velhos, com os mais adultos, com as crianças, também com os idosos, existe um povo! Uma das maneiras de superar a dificuldade é justamente reavaliar o relacionamento entre as gerações?

A.V. Zani: Antes de mais nada, gostaria de aproveitar esta oportunidade para dizer que acompanhei algumas etapas da Semana Mundo Unido e gostaria de expressar minhas felicitações. Eu lhes agradeço muito; o que vocês estão fazendo é um trabalho extraordinário, há uma vitalidade, uma riqueza, um mundo de experiências. Eu disse, em outra ocasião, que era preciso comunicar essas histórias, valorizá-las, o mundo tem necessidade de ver a luz. Um dos aspectos que justamente vocês estão destacando é a superação da fratura entre gerações: este é um ponto fundamental, que muitas vezes é avaliado também em nível científico, no qual  se evidencia que hoje uma das maiores dificuldades é exatamente essa, a dificuldade de dialogar, de construir relações sólidas entre as gerações, entre adultos e jovens. Enfatiza-se que a crise mais forte não é a dos jovens, mas a dos adultos: os jovens crescem com vitalidade, riqueza, criatividade, e o adulto entra em crise sobre suas certezas, sobre seu modo de pensar. E, por ter uma responsabilidade educativa e formativa, surge a questão de saber se está certo ou não aquilo que ensina. Há um estudo francês que define a sociedade atual como uma sociedade ‘adolescêntrica’: o adulto é aquele que mais experimenta a dimensão ‘adolescêntrica’ da incerteza, da insegurança; enquanto o jovem cresce com grande necessidade de ter modelos, exemplos, testemunhos concretos com os quais se identificar. Eu diria que esse é um dos pontos do discurso da paz, que é basicamente construído sobre relacionamentos; se não há relacionamentos, não há paz, e a educação é um ato de relacionamento. Há muito a aprender com os adultos em relação aos jovens, e vice-versa. Não é mais o tempo de ‘juvenilismo’, é o tempo da realidade, o Papa repete isso muitas vezes; educar significa guiar pela mão as pessoas, as crianças, os jovens, mas também os próprios idosos, para que entrem na realidade. A realidade tem muitas dimensões: espirituais, transcendentes, concretas. E se não colocarmos as pessoas dentro da realidade, não atingimos o objetivo educacional. O Papa diz que devemos fazer uma revolução cultural nesta mudança de época, e me parece que, nesse contexto, a Semana por um Mundo Unido seja uma contribuição muito importante.

É uma mudança de época a ser feita com a cabeça, com o coração e com as mãos, o Papa Francisco sempre diz. Neste sentido, talvez a comunidade seja a palavra-chave a ser redescoberta…

A.V. Zani: Eu diria que esse é um dos pontos fundamentais: não é possível educar se não houver uma comunidade, e é preciso educar dentro e através da comunidade. Nesse sentido, eu vejo que a Semana Mundo Unido é uma contribuição para aquilo que o Papa deseja realizar, isto é, esse pacto educacional global, que eu estou entrevendo em todas as experiências que vocês apresentaram nestes dias: pensamos que, quando o Papa lançou o a ideia do Pacto, usou um ditado africano muito importante que diz que “é preciso uma aldeia inteira para educar”, é preciso um contexto, um ambiente, e isso enfatiza a dimensão comunitária. Mas o Papa também diz que, na aldeia, devido à educação, aprende-se a descascar as nossas visões particulares para purificá-las. E, enfim, educar para sair da aldeia, não se deve permanecer dentro da aldeia, a aldeia é o laboratório no qual se aprende a ir além, a enfrentar cenários mais exigentes.

O senhor me dá a oportunidade de fazer a última pergunta. A experiência da Semana Mundo Unido nasceu no Movimento dos Focolares, mas imediatamente, em seu desenvolvimento, atraiu o interesse de pessoas que vão além do Movimento dos Focolares e, portanto, há um bem que também se difunde fora…

A.V. Zani: Concordo plenamente e enfatizo muito esse aspecto que está emergindo, isto é, aquilo que vocês experimentam: que essa experiência não é apenas para o Movimento dos Focolares, mas para todos, é um dom para todos nós, então isso é muito bom. Faço votos que prossigam cada vez mais nessa direção, pois se trata do Carisma da Unidade, não apenas de alguns, mas de todos, mesmo daqueles que estão distantes, que têm outras religiões, outras culturas, outros engajamentos sociais. Quanto mais pensamos em ir além, mais devemos estar formados, preparados. E aqui a questão da educação entra novamente em jogo. De fato, o Papa diz que devemos ter a coragem de formar pessoas capazes de se colocar a serviço do bem comum; portanto, com a coragem de formar, porque sem a formação não vamos a lugar algum. Formar pessoas capazes de se colocar a serviço de todos. Somos capazes de entrar em contato até mesmo com aqueles que não pensam como nós na medida em que formos claros em nossas posições, e soubermos o que queremos e o que doamos, e a serviço de que estamos nos colocando; para isso precisamos de uma qualidade de formação. Mas ‘estar juntos’ é uma vocação que eu tenho que alimentar através da ciência, da disciplina, da experiência.


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