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A Amazônia equatoriana e o problema do gás flaring

 
21 janeiro 2022   |   , ,
 

Nesse território repleto de riquezas naturais e biodiversidade, as petroleiras queimam “resíduos” de gás natural (na realidade, útil), poluindo e causando sérios danos à saúde de quem vive no entorno.

Florestas, rios, lagoas, cachoeiras, milhares de espécies animais, plantas medicinais, montanhas sagradas: tudo isso e muito mais é a Amazônia equatoriana. Ali vivem também muitas comunidades indígenas: povos Quíchuas, Huaorani, Kickwa, Taromenani e muitos outros, alguns dos quais moram bem no meio da floresta, em contato direto com a natureza.

Há 50 anos, porém, esse território começou a mudar de fisionomia: grande parte do território foi vendida a camponeses, que desmataram áreas inteiras a fim de fazer campos para o cultivo e extrair madeira a ser vendida. Outra descoberta causou um verdadeiro choque ambiental: a identificação de grandes campos de petróleo bem abaixo desses territórios. O ouro negro começou a ser extraído, e essa atividade envolveu a construção de centenas de chaminés petrolíferos. Essas “torres de fogo” queimam os gases naturais que se encontram no subsolo e que são liberados no momento da extração do petróleo. Embora sejam gases potencialmente úteis (geralmente gás metano, usado em cozinhas), eles não são reaproveitados, pois o processo seria muito caro para a petroleira; portanto, são considerados como gás residual e queimados, produzindo enormes quantidades de Co2. Este é o processo que comumente é chamado de gás flaring (ou seja, “combustão de gás”): um desperdício de recursos naturais, bem como uma fonte de poluição para o meio ambiente e para os seres humanos. E há um dado ainda mais alarmante: no território da Amazônia equatoriana existem 447 chaminés acesas dia e noite, sete dias por semana.

Para saber mais, entrevistamos Txarli, um frade capuchinho que vive justamente na Amazônia equatoriana, em Tiputini, e que luta para que seu território e as comunidades que ali residem não sejam explorados e maltratados, como está acontecendo agora.

Terryjoyce CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0 via Wikimedia Commons

“As chaminés queimam gás natural dia e noite há 50 anos. Além dos danos ambientais, pensem no desperdício! O Estado paga muito dinheiro para adquirir o gás que consumimos nas cozinhas de nossas casas, e ao mesmo tempo aqui estamos queimando cinco vezes a quantidade de gás que precisaríamos, e que também poderia ser usado nos motores das empresas, vindo a ser um lucro para elas também. Eliminando as chaminés e explorando o gás natural, o Estado sairia ganhando”.

Então, por que elas não são desligadas? Segundo Txarli, o principal motivo é a corrupção. Já foram estabelecidas relações comerciais que não querem que sejam alteradas e, portanto, não há interesse em iniciar uma mudança. Mas a situação é realmente grave, se considerarmos também as terríveis consequências da poluição para a saúde das pessoas que vivem ali: doenças respiratórias e cancerígenas, que já começaram a ocorrer em muitas pessoas.

“O único meio que temos para combater esta situação é o protesto. Tentamos seguir o caminho da justiça, mas não adiantou.” Txarli me conta que nove meninas, cujos pais estão doentes com câncer, se apresentaram para um processo judicial a fim de denunciar ao tribunal da província de Sucumbíos a violação dos direitos humanos (saúde e bem-estar da pessoa) e dos direitos da natureza, devido às chaminés. O juiz condenou esta violação de direitos e exigiu que todas as chaminés de petróleo próximas à população sejam eliminadas em 18 meses. Nada foi feito até agora; ao contrário, foram concedidas licenças especiais a companhias petrolíferas. A confiança que essas pessoas depositaram no Estado foi traída, e elas não têm outra ferramenta senão o protesto: fazer sua voz ser ouvida. Para isso, os habitantes desses territórios contam com o apoio de outras associações ambientais e médicas, que os sustentam em sua batalha. Mas não é fácil.

Pergunto a Txarli que mensagem ele gostaria de transmitir. Ele me responde assim: “Esta terra que Deus abençoou é maravilhosa, sagrada, é uma terra de uma beleza de tirar o fôlego, de biodiversidades. Mas algumas pessoas estão destruindo esse patrimônio que pertence a toda a humanidade. Aqueles que destroem esta terra não vivem aqui, mas também estão destruindo um pedaço (também) da sua casa comum. Todos podemos participar da defesa da Amazônia, mesmo da Europa ou da América do Norte. Todos podem fazer alguma coisa, começando por limitar a própria pegada de carbono liberada no planeta. Estabelecemos para nós mesmos uma meta: plantar novas árvores e poluir 25% menos a cada ano. Mas é um convite para todos. Como fazer? Vamos começar pelas coisas pequenas: usar transporte público, comer menos carne, reciclar”.

Para entender como ser menos poluidores é preciso entender o quanto somos agora. Para isso, podem ser utilizadas diferentes plataformas que ajudam a medir a “pegada de carbono”, ou seja, a pegada de CO2 que cada um de nós emite no planeta. Ao medi-la, percebemos o que podemos fazer para começar a diminuí-la. A conscientização é o primeiro passo para a melhoria.

“Somos todos poluidores” – conclui Txarli – “mas devemos lutar pela mudança: não sermos mais parte do problema, mas parte da solução.”


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