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A luta contra o plástico

 
7 junho 2024   |   Uruguai, Ecologia integral,
 
Foto de Yogendra  Singh_Pexels
Foto de Yogendra Singh_Pexels
Por María Florencia Decarlini (Uruguay)*

O que é exatamente plástico? Onde se encontra, como é produzido e para onde vai? Conhecer o ciclo de vida do plástico é fundamental para entender a magnitude de um grave problema global e saber quais estratégias podemos empregar para enfrentá-lo.

A imagem da tartaruga marinha enredada em um saco de plástico ou a da enorme ilha de 1,6 milhão de km² e cerca de 80 mil toneladas de plástico que não para de crescer no Oceano Pacífico são realidades que nos impressionam e nos questionam. Até o momento, uma média de 8 milhões de toneladas de plástico são despejadas nos oceanos todos os anos, o que equivale a despejar um caminhão de lixo cheio de plástico a cada minuto. Se não invertermos essa tendência, em 2025 haverá uma tonelada de plástico nos oceanos para cada 3 toneladas de peixe, e em 2050 haverá mais plástico do que peixe.

Precisamos tomar medidas urgentes. Para podermos ir ao combate precisamos conhecer o inimigo, saber onde ele está e quais estratégias temos à nossa disposição para nossa luta.

O que é que chamamos de plástico?

A palavra plástico vem de uma palavra grega que significa modelar. O material plástico é caracterizado por grande maleabilidade e capacidade de mudar de forma de modo permanente, o que o torna particularmente valorizado na indústria.

A matéria-prima vem de materiais como celulose, carvão, gás natural e principalmente petróleo. Substâncias intermediárias, como propileno, etileno e butileno, são obtidas a partir da nafta (uma fração de 4% do petróleo bruto), que são usadas para criar polímeros por uma reação química chamada polimerização.

Existem três tipos de plástico. Os termoplásticos são os mais utilizados, pois, ao aplicar calor, é possível moldá-los na forma desejada, que é mantida depois de ser resfriada: é o caso de sacolas, garrafas, recipientes de alimentos, protetores de embalagens, canos e caixas. Depois, há os plásticos termofixos, cujas moléculas se organizam de forma mais complexa e só podem ser alteradas uma vez. Eles são usados para fabricar tomadas de energia, interruptores, piscinas e barcos. Por fim, existem os elastômeros, cuja principal propriedade é a elasticidade, de modo que quando se cessa de exercer uma força sobre eles, eles retornam à forma original. São utilizados na produção de pneus, mangueiras de jardim, trajes de mergulho, borracha de espuma, próteses e sondas.

Para facilitar a identificação e classificação dos plásticos recicláveis, foi desenvolvido um código padrão que inclui sete categorias. O código está localizado na parte inferior dos contêineres e consiste em três setas que formam um triângulo com cantos arredondados.  Dentro de cada triângulo há um número que identifica o tipo de plástico. O número 1 é o PET, que é o plástico mais fácil de reciclar (geralmente recipientes de bebidas), enquanto o último, o número 7, indica plásticos não recicláveis. Embora, em teoria, as seis primeiras categorias sejam recicláveis, em nossos países apenas os tipos 1, 2 e 4 são reciclados, porque não temos tecnologias para reciclar os outros. Ao invés, se considerarmos os aditivos e a estabilidade dos diversos tipos, podemos afirmar que os produtos plásticos mais seguros para a saúde são o 2, o 4 e o 5.

O plástico é utilizado principalmente para embalagens, seguido por outros setores de produção, como construção, transporte e indústria têxtil. O setor de embalagens produz a maior quantidade de resíduos plásticos (46%), seguido pelo setor têxtil (15%), bens de consumo (12%), transportes (6%), construção (4%) e eletricidade (4%).

Cerca de 40% de todas as embalagens plásticas jogadas fora acabam em aterros sanitários, onde levam até mil anos para se decompor, liberando substâncias potencialmente tóxicas no solo e na água. Cerca de 32% se disperdem no meio ambiente, 14% são incinerados e apenas 10% são efetivamente reciclados.

Onde o plástico é encontrado?

Podemos concluir que o plástico é onipresente em nossa vida cotidiana, não apenas na forma visível (macroplásticos), mas também na forma de microplásticos que contaminam o ar, o solo e a água.

Nos aterros sanitários, os macroplásticos se fragmentam e se degradam, transformando-se em grande parte em microplásticos, que desembocam no lixão de áreas industriais e urbanas e se somam aos fragmentos plásticos liberados por materiais em uso, como redes de pesca, pneus e tintas. As principais fontes de microplásticos também incluem cosméticos e produtos de higiene pessoal, bem como fibras sintéticas de têxteis.

Hoje, os microplásticos estão em todo o planeta, dos oceanos aos rios, dos sedimentos ao solo, do ar aos organismos vivos e até nos recursos alimentares e em áreas remotas do planeta, como o Ártico e as geleiras de montanha. Eles são inertes em si mesmos, mas se tornam tóxicos porque, durante o processo de produção ou armazenamento nos mares, absorvem uma série de substâncias e toxinas que alteram a saúde e a reprodução dos organismos. Nos oceanos, eles podem ser ingeridos por animais marinhos e chegar aos seres humanos através da cadeia alimentar.

A maior parte dos microplásticos encontrados no ar em espaços fechados vem das fibras plásticas liberadas por roupas sintéticas e tecidos usados em casa (acrílico, nylon e poliéster respondem por cerca de 60% da produção têxtil mundial). Quando lavados, esses tipos de tecidos liberam fibras que vão parar em esgotos. O uso de águas residuais para irrigação significa que vários milhares de toneladas de microplásticos acabam em nossas plantações todos os anos.

Que estratégias possíveis temos à disposição?

O problema não é o plástico, mas o uso que fazemos dele. Imaginar o nosso futuro sem esse material não é possível nem sustentável. Precisamos ver os resíduos plásticos como um recurso valioso. Estão em curso trabalhos para o desenvolvimento de novas tecnologias, como a reciclagem química, complementar à reciclagem mecânica. Há também projetos focados no ecodesign para produzir plásticos biodegradáveis. Estamos no caminho certo, mas precisamos acelerar o ritmo para atingir nossas metas de circularidade no médio e longo prazo. A Economia Circular é um ponto fundamental da solução, porque a maior parte da poluição plástica pode ser evitada.

Do ponto de vista industrial, devem ser definidos quatro objetivos estratégicos: 1) eliminar e substituir itens plásticos problemáticos e desnecessários, incluindo aditivos perigosos; (2) Assegurar que os produtos de plástico sejam concebidos para serem circulares, ou seja, em primeiro lugar reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis após múltiplas utilizações no final da sua vida útil; 3) fechar o ciclo do plástico na economia, garantindo que os produtos realmente circulem, sejam eles reutilizados, reciclados ou compostados; (4) Gerir os plásticos não reutilizáveis e não recicláveis, incluindo os resíduos existentes, de forma ecologicamente responsável.

Como sociedade, não podemos desistir da tarefa de educar e sensibilizar todos para uma melhor gestão dos resíduos, ensinando a reduzir, reutilizar e reciclar. Podemos organizar dias para limpar áreas dos macroplásticos e escolher produtos que atestem condições adequadas de produção e reciclagem.

Precisamos mudar nossos hábitos a partir da esfera pessoal, eliminando o uso de plástico desnecessário, preferindo produtos biodegradáveis e gerenciando melhor nossos resíduos, para que realmente possam ser reciclados.

Macroplásticos: Qualquer produto plástico que seja facilmente visível, normalmente acima de 5 milímetros de diâmetro.

Microplásticos: Partículas menores que 5 mm de diâmetro.

Os microplásticos primários são produzidos para desempenhar uma função específica (por exemplo, grânulos de limpeza abrasiva em cosméticos).

Os microplásticos secundários resultam do desgaste ou fragmentação de objetos maiores, seja durante o seu uso, seja após a sua dispersão no ambiente.

*A autora é doutora em Bioquímica e pesquisadora em Química verde.


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