United World Project

Workshop

A paz, o Papa e um apelo para começar o ano

 
3 janeiro 2022   |   Internacional, ,
 
https://peace-dividend.org/

No dia 1º de janeiro de cada ano, é celebrado na Igreja Católica o Dia Mundial da Paz. Foi o Papa Paulo VI quem o instituiu em 8 de dezembro de 1967, com os votos de que fosse «a paz com seu justo e benéfico equilíbrio a dominar o processar-se da história no futuro».

Tratava-se, já naquele tempo, de um convite que provinha dos confins do mundo católico, bem como de um apelo extremo à trégua e ao diálogo pela escalada da guerra no Vietnã. Paulo VI escreveu: « Antes, seria para desejar que ela encontrasse a adesão de todos os verdadeiros amigos da Paz, como se se tratasse de uma iniciativa sua própria; que ela se exprimisse livremente, por todos aqueles modos que mais estivessem compatíveis e mais de acordo com a índole particular de quantos avaliam bem, como é bela e importante ao mesmo tempo, a consonância de todas as vozes do mundo, consonância na harmonia, feita da variedade da humanidade moderna, no exaltar este bem primário que é a Paz».

Diálogo entre gerações, educação e trabalho: instrumentos para edificar uma paz duradoura

Neste ano, em sua mensagem para o 55° Dia Mundial da Paz, o papa Francesco propõe três caminhos para construir uma paz inclusiva com raízes sólidas: diálogo entre as gerações, educação e trabalho. Ele escreve:

«Primeiro, o diálogo entre as gerações, como base para a realização de projetos compartilhados. Depois, a educação, como fator de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento. E, por fim, o trabalho, para uma plena realização da dignidade humana. São três elementos imprescindíveis para tornar “possível a criação de um pacto social”, sem o qual se revela inconsistente todo o projeto de paz.»

O tema que mais uma vez perpassa seu discurso é a “cultura do cuidado”. Cultura que também nos permite superar as fraturas da sociedade e a inércia das instituições e que pode se tornar «a linguagem comum que abate as barreiras e constrói pontes». Daí o convite a um pacto educacional global «que promova a educação para a ecologia integral, segundo um modelo cultural de paz, desenvolvimento e sustentabilidade, centrado na fraternidade e na aliança entre os seres humanos e o meio ambiente». E para que o caminho da paz possa entrar concretamente na vida de tantos homens e mulheres, papa Francisco sublinha o papel insubstituível desempenhado pelo trabalho humano que é «uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal».

«Como é urgente promover em todo o mundo condições laborais decentes e dignas, orientadas para o bem comum e a salvaguarda da criação! É necessário – continua – garantir e apoiar a liberdade das iniciativas empresariais e, ao mesmo tempo, fazer crescer uma renovada responsabilidade social para que o lucro não seja o único critério-guia.»

Um dividendo global pela paz

Com essas premissas, queremos retomar e relançar uma iniciativa assinada e promovida por cerca de cinquenta prêmios Nobel, em dezembro de 2021, e dirigida aos governos do mundo todo.

A proposta, que se baseia em critérios racionais de cálculo, prevê a redução de 2% nos gastos militares em todos os países. Isso economizaria 1 trilhão de dólares em 5 anos, que poderia ser usado, metade dele, para combater emergências planetárias: pandemias, aquecimento global, pobreza extrema. A outra metade ficaria à disposição dos vários governos, que poderiam alocá-los para aplicações mais pacíficas. Em suma, para as emergências da própria casa: pobreza, desigualdades sociais (moradia, educação, trabalho, saúde), exploração de recursos e meio ambiente. O apelo é intitulado “Um dividendo global pela paz”. A petição, no momento em que escrevemos este artigo, acaba de atingir 43.555 assinaturas…

O texto do apelo

Os gastos militares mundiais dobraram desde 2000. Aproximam-se de US $ 2 trilhões por ano e esse valor está aumentando em todas as regiões do mundo (*).

Os governos estão sob pressão para aumentar os gastos militares porque outros o fazem. O mecanismo de feedback apoia uma corrida armamentista em espiral – um desperdício colossal de recursos que poderia ser usado com muito mais sabedoria. As corridas armamentistas do passado geralmente tiveram o mesmo resultado: conflitos mortais e destrutivos.

Temos uma proposta simples para a humanidade: os governos de todos os Estados membros das Nações Unidas deveriam negociar uma redução conjunta de seus gastos militares de 2% ao ano durante cinco anos. A lógica da proposta é simples:

As nações adversárias reduzem os gastos militares, assim a segurança de cada país aumenta, enquanto o poder de dissuasão e o equilíbrio são preservados.

O acordo contribui para reduzir a animosidade, diminuindo então o risco de guerra.

Vastos recursos – um “dividendo de paz” de US $ 1 trilhão até 2030 – são disponibilizados.

Propomos que metade dos recursos liberados por este acordo sejam destinados a um fundo global, sob a supervisão da ONU, para enfrentar os graves problemas comuns da humanidade: pandemias, mudanças climáticas e pobreza extrema.

A outra metade fica à disposição de cada governo. Todos os países, portanto, terão novos recursos significativos. Alguns deles podem ser usados ​​para redirecionar as consistentes capacidades de pesquisa das indústrias militares para aplicações pacíficas urgentemente necessárias.

A história demonstra que os acordos para limitar a proliferação de armas são viáveis: graças aos tratados SALT e START, os Estados Unidos e a União Soviética reduziram seus arsenais nucleares em 90% desde os anos 1980. Essas negociações podem ser bem-sucedidas porque são racionais: cada ator se beneficia com a redução dos armamentos de seus oponentes, assim como a humanidade como um todo.

A humanidade enfrenta riscos que só podem ser evitados por meio da cooperação.

Vamos cooperar em vez de brigar uns com os outros.

(*) Stockholm International Peace Research Institute

ASSINE O APELO

Talvez a paz também passe pela ousadia de cuidar das pessoas e do planeta assinando este pequeno apelo.

FELIZ 2022 PARA TODOS!


SHARE: