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Chile, o deserto como fonte de energia limpa
Por Alberto Barlocci
Existem várias usinas solares ativas ou em desenvolvimento no Chile localizadas no deserto do Atacama, o mais árido do mundo. É uma experiência que nos ensina a olhar o desenvolvimento de um território de forma diferente.
A ideia de desenvolvimento econômico, entre muitas outras coisas, supõe também a possibilidade de transformar as fragilidades de um território em pontos fortes. Muitas vezes, isso depende da nossa capacidade de observar a realidade de um tal modo que se torne possível transformar as desvantagens em fonte de riqueza. Portanto, depende muito de como «olhamos» um território.
Além dos recursos minerais – que são notáveis – o que mais o Deserto do Atacama, que ocupa grande parte do Norte do Chile, poderia oferecer ao desenvolvimento? Estamos na região mais árida do mundo: uma extensa superfície praticamente habitada apenas no litoral. O interior é inóspito, sulcado por cadeias de montanhas áridas, que depois se transformam nas ramificações da Cordilheira dos Andes. Em grande parte, ela é estéril para a agricultura e está se expandindo de forma perigosa devido à escassez de chuvas nas regiões do Norte do Chile. Mas essa é apenas uma maneira de ver as coisas. As altas temperaturas que são atingidas durante o dia e a intensa radiação solar podem se transformar em recursos. O deserto visto como fonte de energia representa uma nova fronteira de vanguarda no país.
Foi o que entenderam os construtores de usinas solares, que estão se multiplicando com um aumento benéfico das energias renováveis, a ponto de em certas épocas do ano ter um custo praticamente zero. A última dessas realizações foi inaugurada há apenas uma semana. Trata-se de uma das maiores usinas térmicas solares construídas, situada na localidade de Cerro Dominador, na região de Antogafasta, em pleno deserto.
A nova usina, a maior desse tipo na América Latina, utiliza o sistema misto de painéis fotovoltaicos espalhados por uma área de mil hectares, que refletem luz e calor em uma enorme torre de 250 metros de altura, a qual contém uma solução salina. O superaquecimento desses fluidos é transmitido para um depósito de água que, por sua vez, produz vapor que aciona uma turbina. A capacidade equivale a 210 megawatts. Estima-se que, na potência máxima, a usina possa abastecer 382 mil residências de forma constante. Isso evita a emissão de 630 mil toneladas de CO2 por ano, o equivalente aos gases de escapamento de 135 carros em um ano. O investimento foi de 1,3 bilhão de dólares e gerou 1.500 empregos para a construção de 80 edifícios e para a gestão da central.
O projeto faz parte do plano de redução das emissões de carbono em relação às necessidades energéticas nacionais, um plano que, com o uso extensivo da energia eólica, geotérmica e solar, multiplicou por dez seu potencial nos últimos seis anos. A capacidade atual de energia solar é de cerca de 2.700 megawatts, capaz de cobrir aproximadamente 11% da demanda diária de energia do país. O “salto” realizado para as energias renováveis baseia-se no esforço de cerca de 200 centrais espalhadas por todo o território, desde as eólicas, que também continuam a crescer, até às hidroelétricas e geotérmicas. São 31 usinas solares, muitas das quais em funcionamento e outras em fase final de desenvolvimento.
No geral, as fontes renováveis alternativas no Chile estão cobrindo 23% da demanda de energia, produzindo mais de 5.800 megawatts. Assim, foi superada a meta inicial de chegar a 2025 atendendo a 20% das necessidades energéticas com energias renováveis não convencionais. O plano energético atualmente em pleno desenvolvimento visa à obtenção de 70% da energia necessária provenientes de fontes limpas em 2050, mas a perspectiva é que até essa data 100% da energia utilizada venha de fontes alternativas. Além disso, o Chile pode se tornar um exportador de energia produzida a partir de fontes renováveis.