Workshop
Em fuga do Afeganistão
A história de uma família afegã que fugiu do próprio país e chegou à Itália: entre separação, dor e gestos concretos de acolhida.
Em 31 de agosto passado, uma família afegã de sete pessoas também embarcou no último avião de Cabul para a Itália. Dois pais idosos, três filhos de 35 a 18 anos, dois netos de sete e cinco anos. Uma das filhas não conseguiu entrar no avião. Uma das filhas que conseguiram, porém, não teria querido vir: o noivo ficou em casa, e os dois não sabem se voltarão a se ver. Histórias complicadas são tecidas em torno desse núcleo familiar. Agora, a maioria deles está na Itália, em uma cooperativa social, tentando começar uma nova vida.
“Eles chegaram aqui deixando no Afeganistão a casa, os afetos, tudo. E sabem que provavelmente nunca mais poderão voltar. Por trás de tal escolha existem razões econômicas, religiosas ou mesmo étnicas. Mas geralmente o motivo mais forte é a esperança de oferecer um futuro diferente aos próprios filhos.” Assim fala Gianni Caucci, colaborador da Cooperativa Una Città Non Basta da cidade de Marino, na região italiana do Lazio, que os acolheu. Antes da pandemia, as atividades realizadas nesta estrutura eram extracurriculares para crianças e adolescentes em dificuldade e assistência a migrantes e pessoas marginalizadas. “A ideia da Cooperativa nasceu abrindo os olhos para o nosso território, para o nosso bairro, para o vizinho em dificuldade. No início era só voluntariado, depois percebemos que algumas atividades tinham que ser feitas de forma profissional.” Agora trabalham ali psicólogos, mediadores culturais, advogados. Desde setembro, o objetivo da Una Città Non Basta tornou-se acompanhar esta família afegã, fazendo o possível para que se sinta em casa. “Parece uma bobagem, mas para eles é muito importante poder encontrar aqui a sua cozinha, os seus aromas, a sua forma de fazer as coisas.”
Não é simples andar pelas ruas de um país que não é o seu, onde se fala uma língua que você não entende e as coisas são feitas de modo diferente. E certamente é mais difícil se você for mulher. Os meninos da família (sexo masculino) agora vão para a escola, as meninas não estavam acostumadas a isso. “A ocidentalização que havia chegado a Cabul – explica Gianni – certamente não era a norma em muitos recantos do Afeganistão distantes da capital”. Acostumadas a ficar em casa, ainda agora elas têm medo de sair. Para elas foram organizadas oficinas com atividades manuais, na esperança de que em breve tenham a coragem de dar o primeiro passo na (nova) sociedade.
As dificuldades, todavia, também existem para os homens, mesmo quando tentam escondê-las. Um dia, o pai da família, de cerca de 70 anos, foi encontrado caído no chão. “Ele parecia estar fisicamente doente – diz Gianni –, mas então percebemos que ele só precisava de atenção. Até aquele momento ele só tinha se preocupado com os outros membros da família, nunca sobre como ele mesmo estava.” O que pode significar abandonar a própria terra para sempre, de repente, nessa idade, tendo sobre si a responsabilidade de sua família?
No dia seguinte, Gianni encontrou embaixo da porta de seu escritório um papel com um texto em persa antigo, difícil de traduzir até para os intérpretes. Entendeu-se então que eram versos de um poeta, escritos com uma caligrafia primorosa até nos detalhes. Era um presente valioso, um sinal de reconhecimento e gratidão para quem não o abandonou e não abandonou sua família.
Gianni finalmente narra um último episódio: um dia, um dos netos da família se aproximou dele e mostrou-lhe um carro de controle remoto que estava quebrado. Ele deixou de lado o trabalho que estava fazendo e, pegando as chaves de fenda e o soldador, começou a consertar o brinquedo da criança. “Nós não dissemos nenhuma palavra. Mas depois daquele dia nos tornamos muito amigos.” A acolhida é construída com muitos pequenos tijolos, de modo concreto. É feita de pequenos e grandes gestos, de cuidados e relações.
As histórias de quem foge de um país como o Afeganistão são impregnadas de dor, de separação, de feridas que não cicatrizam. Mas quando essas pessoas encontram o coração e as mãos de alguém que está pronto (e preparado) para as receber, então, talvez, possam encontrar um ponto de reviravolta. Sentir-se amados, não descartados, pode fazer toda a diferença.