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A paz começa com um encontro

 
24 fevereiro 2023   |   , ,
 

Um olhar a partir dos EUA um ano após o início da guerra na Ucrânia: a situação atual e o desejo persistente de paz.

Passou-se um ano desde que Irina me confidenciou: “Se não vencermos, que Deus nos dê a força para resistir a outra perseguição”. Tínhamos concluído uma vigília de oração inter-religiosa pela Ucrânia, sete dias depois daquele 24 de Fevereiro que marcou a história do seu povo e de todos nós.

A força para resistir custou a morte de pelo menos 8 mil civis, incluindo 487 crianças, segundo o relatório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos (ACNUDH), que publicou também o número de feridos: 13 mil.

“Esta é apenas a ponta do iceberg, mas o número de civis mortos é insuportável”, disse o Alto Comissário para os Direitos Humanos, Volker Türk, esclarecendo que o relatório “expõe a perda e o sofrimento infligidos às pessoas” também devido à escassez de eletricidade e água, precisamente durante os meses frios de inverno, enquanto quase 18 milhões de pessoas “precisam desesperadamente de assistência humanitária” e cerca de 14 milhões estão deslocadas. O relatório não inclui as vítimas civis em território russo, dada a “falta de informação”.

“Não quero que o meu país seja instrumentalizado pelo Ocidente em uma guerra pessoal contra Putin”, explica Olena. Ela mora em Nova York, mas a sua família reside em Lviv. “As pessoas estão muito cansadas, o sofrimento é grande: se as armas devem ser usadas, que os governos ocidentais as usem para convencer a Ucrânia e a Rússia a se sentarem à mesma mesa, eles precisam falar sobre a paz, sobre as negociações.” No front político, os blocos continuam a endurecer, e as resoluções da Assembleia Geral da ONU são de pouca utilidade se não tiverem o poder de impor um diálogo, um caminho de pacificação.

Um caminho que este ano deu origem a pequenas e grandes iniciativas, que trouxe a Ucrânia e os ucranianos para as casas de 113 mil famílias americanas. Quando solicitados a acolher refugiados ucranianos, 213 mil americanos responderam favoravelmente à proposta de hospitalidade lançada pelo programa “Uniting for Ukraine”. Chegaram outros 154 mil fora do programa. Em Minneapolis, a organização sem fins lucrativos ASIU, que ajuda no reassentamento, envolveu a comunidade para encontrar moradia, móveis, mantimentos e passagens para entrevistas de emprego.

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia convenceu a ginasta olímpica Siobhan Heekin-Canedy de que o primeiro passo de paz a ser dado seria ensinar russo à sua filha de dois anos: “Sou americana, mas obtive a cidadania ucraniana para representar o país do meu parceiro na dança no gelo nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014” – explica Siobhan, que tem muitos russos entre seus colegas que, como ela, seguiram uma carreira competitiva. Para ela, a abordagem cristã em relação à guerra é superar os muros cada vez mais altos. “Eu simpatizo com os ucranianos que pararam de falar russo, mas estou tentando ensinar esse idioma à minha filha de 2 anos. Para alguns, pode parecer hipocrisia ou fraqueza; mas para mim é uma abordagem de diálogo nessa tragédia que divide”, explica a ginasta.

Em Pittsburgh, a Igreja Ortodoxa Ucraniana e a Igreja Russa convivem no mesmo quarteirão há mais de 100 anos. As consequências da guerra para os pastores e fiéis das duas comunidades são tangíveis diante de um quadro sagrado, no qual há painéis com uma mensagem em letras enormes: “Estamos unidos em oração pela paz na Ucrânia”. D. John Charest, da igreja russa, explica que não foram poucos os russos que arriscaram suas vidas falando sobre a invasão ucraniana, mas “eles fizeram isso”. Charest explica que seria necessária uma mudança de linguagem e passar das expressões “ataque da Rússia” para “ataque de Putin”, porque nem todos os russos eram a favor desse ato.

A guerra na Ucrânia abriu de forma consistente um debate sobre o poder de veto de que gozam apenas os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Os vetos impostos pelo governo de Putin também no que concerne à ajuda humanitária, levaram a Assembleia Geral a convocar um debate público sobre a decisão de impor essa proibição. Assim, desde março passado, para cada veto imposto a uma resolução no Conselho de Segurança por um dos cinco Estados permanentes, será obrigatório realizar uma reunião dos 193 membros da Assembleia Geral e explicar as razões, para não continuar a impor inatividade, justamente enquanto se fala de crimes de guerra. “Não podemos sempre parar um tsunami, mas podemos testemunhar e fazer o que Deus fez. Diante do mal, podemos doar e viver a vida de doação. Mais cedo ou mais tarde, a confiança de Deus prevalecerá”. Isto foi dito pelo Arcebispo Metropolitano Borys Gudziak, da arquieparquia católica ucraniana da Filadélfia, que neste longo ano se encontrou com fiéis, militares feridos e famílias dilaceradas, provando que a paz sempre começa com um encontro.


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