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Resiliência e esperança: o exemplo da Equipe Olímpica de Refugiados

 
3 agosto 2021   |   Internacional, ,
 

Pela segunda vez na história, a Equipe Olímpica de Refugiados participa dos Jogos Olímpicos: um símbolo de esperança para migrantes e refugiados do mundo todo. Contamos a vocês algumas de suas histórias de resiliência e esperança, porque acreditamos que o mundo unido passa também pelo nosso envolvimento nas histórias deles.

São 29 os atletas que fazem parte da Equipe Olímpica de Refugiados em Tóquio 2020. O ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) define refugiado como “alguém que foi forçado a fugir de seu país devido à perseguição, guerra ou violência”. Dessa forma, a equipe representa um povo de mais de 20 milhões de pessoas que, por esses motivos, estão longe dos próprios países.

 

A primeira Equipe Olímpica de Refugiados fez sua estreia nos Jogos Rio 2016. Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional, declarou na ocasião: “Ao dar as boas-vindas à equipe de Atletas Olímpicos Refugiados aos Jogos Rio 2016, queremos enviar uma mensagem de esperança para todos os refugiados do mundo. É também um sinal para a comunidade internacional: os refugiados são como nós e são uma riqueza para a sociedade. Estes atletas mostrarão ao mundo que, apesar das tragédias inimagináveis ​​que enfrentaram, podem contribuir para sociedade com o próprio talento, capacidade e força de espírito”.

A experiência se repete este ano, com Tóquio 2020. Os 29 atletas da Equipe de Refugiados praticam 12 modalidades esportivas diferentes: atletismo, badminton, boxe, canoagem, ciclismo de estrada, judô, caratê, tiro, natação, taekwondo, levantamento de peso e luta livre. Eles provêm de 11 países: Afeganistão, Camarões, República Democrática do Congo, Eritreia, Irã, Iraque, República do Congo, Sudão do Sul, Sudão, Síria e Venezuela. A maioria deles é mantida por meio de bolsas de estudo do COI (Comitê Olímpico Internacional).

E agora, contamos a vocês algumas de suas histórias.

Ali Zada Masomah, a ciclista

Ali Zada ​​é uma ciclista afegã. Quando ela corria de bicicleta, ainda criança, atiravam pedras e frutas nela, gritavam insultos contra ela. Em 2016, ela e sua irmã Zahra participaram de uma competição em Albi, na França, e história delas foi contada no documentário “As pequenas rainhas de Kabul”. Em 2017, conseguiram asilo com a família e se mudaram para a cidade de Lille. “No Afeganistão eu não podia andar de bicicleta, era proibido. Nunca vi uma garota de bicicleta, muito menos com roupas esportivas. Na época, não havia muitas garotas de bicicleta e as pessoas eram violentas quando nos viam. Pensei que fosse contra a nossa cultura e a nossa religião, mas isso não é verdade. Era apenas estranho para eles verem uma mulher de bicicleta pela primeira vez. Nunca desisti de andar de bicicleta. Pelo contrário, quero encorajar as meninas a fazer isso e normalizar o ciclismo feminino no Afeganistão”. (Actu.fr, 12 de junho de 2021; infomigrants.net, 06 de junho de 2021; marca.com, 11 de janeiro de 2021). Ali Zada optou por usar o véu durante a competição: “As pessoas comentam sobre o meu véu. Elas me perguntam se eu não sou muito sexy. Nunca devemos parar de educar as pessoas. Moro sozinha em Lille, meus pais estão em Orleans, e meu pai sempre me disse que cabia a mim decidir se queria usar o véu ou não. Isso é algo que as pessoas não entendem”. (Actu.fr, 12 de junho de 2021)

RF1139743_Masomah Ali Zada

Popole Misenga, o judoca

Popole é natural de Bukavu, a área mais afetada pela guerra civil na República Democrática do Congo, de 1998 a 2003. Quando tinha nove anos, ele perdeu a família e foi encontrado após oito dias vagando sozinho na selva. Descobriu o judô no orfanato de Kinshasa, que o acolheu. Ele conta: “Quando você é criança, tem que ter uma família que lhe dê instruções sobre o que fazer, e eu não tinha. O judô me ajudou, dando serenidade, disciplina, comprometimento, tudo”. Mas Misenga também sofreu perseguições e punições. Assim, em 2013, temendo por sua vida, pediu asilo no Brasil, enquanto estava no Rio de Janeiro, por ocasião do Campeonato Mundial de Judô. Obteve asilo em 2014 e, em 2016, foi selecionado para a Equipe Olímpica de Refugiados do COI: “Significou muito para mim poder representar todos os refugiados do mundo na plataforma esportiva internacional. Isso me dá força no tatame ao representar os milhões de pessoas que tiveram que deixar suas casas e países. O judô me salvou”.

Popole Misenga_Instagram.co_@popolemisengaofc

Sanda Aldass, a joduca

Sanda Aldass tem 31 anos e também é judoca. Ela é natural da cidade de Damasco, na Síria. Durante a guerra, Sanda e sua família perderam a casa. Em 2015, ela fugiu para a Holanda pela Turquia, antes do seu marido Fadi Darwish – que também é seu treinador – e seu filho mais velho. Passou nove meses em um campo de refugiados, separada de sua família.

“Correr e fazer alguns exercícios ocupou meu tempo e também me manteve em boa saúde mental”, disse ela. “Eu sabia que um dia eles viriam e que teríamos um bom lugar para morar.” Hoje Darwish é oficialmente seu treinador e a família cresceu, eles têm três filhos. A Federação Internacional de Judô convidou o casal para seu programa de atletas refugiados em 2019, com Aldass competindo como judoca da Equipe de Refugiados da IJF no Campeonato Mundial daquele ano.

Desde então, ela também representou a equipe em eventos do Grand Slam enquanto buscava uma vaga em potencial para os Jogos Olímpicos. Objetivo alcançado!

Sanda Aldass © UNHCR_Janou Zoet

Fazloula Saeid e a canoa

Fazloula Saied tem 28 anos. No passado, ele representou a República Islâmica do Irã, mas durante o campeonato mundial de 2015 em Milão, Itália, ele tirou uma selfie em frente ao Duomo. Por causa disso, ele recebeu ameaças na República Islâmica do Irã por motivos religiosos. Naquele ano, ele fugiu pela “rota dos Balcãs” para Karlsruhe, na Alemanha. Em 2018, começou a competir pela Alemanha, onde foi reconhecido como refugiado político. Ele conta: “Eu tinha tudo que queria no Irã: dinheiro, um carro e um apartamento. A única coisa que eu podia fazer na Alemanha no início era a canoa. Assim que pego o remo, esqueço todas as minhas preocupações. Quando inicialmente morei em um lar de refugiados, estava feliz por poder ir ao clube e ficar lá até à noite. A canoa me acalma”. (thefrontierpost.com, 01 de junho de 2021; swr.de, 08 de junho de 2021; canoeicf.com, 08 de junho de 2021; insidethegames.biz, 01 de outubro de 2020; Perfil do Instagram da Equipe Olímpica de Refugiados do COI, 22 de abril de 2021). Em 2018, ele foi nomeado herói do esporte pela emissora alemã Sudwestrundfunk: “Se há uma coisa que sempre digo a mim mesmo é esta: só preciso acreditar que vou conseguir, seja lá o que for”. (thefrontierpost.com, 01 de junho de 2021)

Fazloula Saeid instagram.co_@saeidfazloula

Lohalith Anjelina Nadai

Anjelina chegou em 2002, com sua tia, ao campo de refugiados de Kakuma, no Quênia, após fugir do Sudão do Sul devido à guerra. Seu talento foi notado enquanto ela ainda vivia no campo de refugiados. Em 2015, um de seus professores lhe ofereceu a possibilidade de participar de uma corrida de 10 km organizada pela Fundação Tegla Loroupe, a fundação da campeã meio-fundista e maratonista que tem por objetivo apoiar e promover iniciativas para a resolução de conflitos, para a paz e para reduzir a pobreza na região dos Grandes Lagos. Diante dos resultados alcançados, Anjelina foi selecionada e, desde então, vem treinando com a Fundação. “Aonde quer que eu fosse, corria” – relembra ela em uma entrevista (mobsports.com, 18 de junho de 2021) –. “Quando ia buscar algo para minha mãe, sempre corria porque não queria apanhar dela. Eu gostava de correr sem motivo, mas não sabia nada sobre corrida até a Tegla chegar ao campo. Não sabia quem ela era. Só depois fiquei sabendo das suas medalhas e do seu recorde mundial”. Anjelina participou dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Em 2018, foi selecionada para se juntar a outros jovens do mundo inteiro no primeiro “Sports at the Service of Humanity – Young Leaders Mentoring Programme” (O esporte a serviço da humanidade – Programa de mentoria para jovens líderes) em vista do Fórum “Olimpismo em Ação” do Comitê Olímpico Internacional e Jogos Olímpicos da Juventude em Buenos Aires, Argentina.

Ela se tornou mãe após sua participação nos Jogos Olímpicos de 2016.

Rio de Janeiro – Integrantes da Equipe Olímpica de Atletas Refugiados desembarcam no RioGaleão. Os atletas são refugiados do Sudão do Sul que vivem no Quênia e disputarão diferentes modalidades de corrida nas competições de atletismo (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

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