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Um coração que dança

 
19 março 2021   |   , ,
 

O sonho de ir para a Itália cultivado desde tenra idade, a alegria de ter conseguido isso e o esforço constante de ir em busca da possibilidade de uma vida melhor. Lamine, agora com vinte anos, depois de ter sido hóspede da Casa di Ismaele, tem um emprego e mora em um apartamento com dois amigos, em Rogliano (Cosenza, Itália), para onde “levei o meu coração”.

A cidadezinha de Koungheul está localizada no centro do Senegal e tem quinze mil habitantes. Lamine deixou essa terra e chegou à Itália em 13 de julho de 2017, ainda menor de idade. Agora, com vinte anos, ele é um rapaz que fala bem o italiano, trabalha e mora em uma casa com dois amigos. Em seu caminho de inclusão fez passos de gigante.

A viagem de Lamine começa realmente antes de 2017: “Eu queria mudar para ter uma vida melhor”, diz ele com um sorriso. Assim, deixa os pais e parte em direção ao Norte: primeiramente a Mauritânia, a Argélia e depois a Líbia. Ele tem um plano específico: quer ir para a Itália: “Eu sonhava com isso desde pequeno”. A viagem não é fácil, e ele não quer se lembrar dela. Mas quando desembarca em Corigliano, na Calábria, agradece a Deus por lhe ter concedido a realização desse sonho. Depois de um tempo, vai morar na Casa di Ismaele, em Rogliano.

Ele é bem recebido nesse SPRAR[1] recém-inaugurado, onde menores estrangeiros desacompanhados ficam hospedados. Lamine está feliz: “tornou-se a minha família, não há lugar mais bonito“. Ele aprende italiano (“quando desembarquei não sabia nem dizer olá”), joga futebol com os amigos e cozinha (“sei fazer muito bem arroz com peixe”).

Chega então a hora de começar a aprender um trabalho; no Senegal ele foi eletricista, na Itália ele se torna eletricista. Na verdade, na Casa di Ismaele ele está inserido no programa Criar um Sistema Além do Acolhimento e tem um emprego, graças também aos fundos obtidos junto à Fundação Con il SudIniziativa Immigrazione, na empresa Solaretika, que presta serviços de consultoria, desenho e instalação de equipamentos: “Estou aprendendo, gosto do trabalho, estou muito bem”. E esta última palavra – muito bem – ele repete várias vezes, como que para evidenciar com um marcador. Graças ao trabalho que o tornou autônomo, ele deixa a Casa di Ismaele e vai morar em um apartamento com outros dois rapazes. Mas ele passa no SPRAR quase todas as noites, mesmo que seja apenas para uma saudação.

Em outubro passado, Lamine voltou ao Senegal por uma semana. Dez horas de voo e o abraço da mãe que não via há anos. Ele sempre imaginou esse momento – “à noite eu sonhava em ir até minha casa” –, mas infelizmente o seu sonho está fragmentado, porque ele tem que enfrentar a viagem após a morte do pai. “Minha mãe começou a chorar assim que me viu”, e ele não consegue dormir por alguns dias; “ela me diz para ir dormir, mas eu respondo que não consigo porque meu coração está dançando“. Quando sobe de novo no avião para retomar a vida na Itália, promete regressar ao Senegal “para umas férias mais prolongadas”. Agora o coração de Lamine está na Calábria, onde ela gostaria de formar uma família um dia. Mas o sonho real, o maior de todos, é levar sua mãe em uma peregrinação a Meca.

[1] SPRAR: Sistema de proteção para requerentes de asilo e refugiados


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